domingo, 30 de outubro de 2011

Conquista da Via Capricórnio - Face Leste do Morro dos Cabritos – Copacabana – RJ

Seis meses após a nossa primeira Conquista nesta montanha, demos início a essa nova empreita que vou relatar agora e que abrange parcialmente todas as outras Vias e também conta a nossa história aqui na Base dos Cabritos. Essa história se inicia a partir da primeira Via que ficou conhecida como Heróis dos Cabritos, quase 30 anos depois das primeiras escaladas nesta Face, período em que essa área ficou dominada pelo tráfico armado. E que só foi possível o retorno graças à pacificação nos Morros da Zona Sul.
Anteriormente havíamos idealizado uma linha de escalada que passaria ao lado do arco em direção ao totem na parede direita do Morro dos Cabritos. Mas por aparentemente ser uma via mais exigente, com graduação elevada, a primeira conquista nesta parede veio a ser a clássica Mundo Real, que por esses aspectos, saímos conquistando para a direita buscando uma linha mais fácil e depois voltando em diagonal para esquerda, seguindo no meio do totem até o ponto culminante do mesmo que é o final da parede nesta face.

Neste meio tempo, vimos que do totem para o outro lado da parede daria um ótimo Highline, e para alcançar esse outro extremo conquistamos a Via Ovelha Negra, uma linha passando no grande platô pegando a língua negra da parede e cortando a Mundo Real em dois pontos utilizando a mesma proteção.
Após alguns dias, buscando um acesso mais rápido para a montagem do Highline descobrimos uma canaleta no extremo da Face Leste com a Norte, já virando para Lagoa Rodrigo de Freitas. Subimos a primeira vez pela canaleta até um diedrinho, porém neste pequeno trecho de escalada havia algumas cordas velhas e até fiação elétrica amarradas em pontos fixos com vergalhão que provavelmente tenha sido utilizado pelos operários para fazer a passagem para as obras de contenções no alto da montanha e também eventualmente servia de acesso pelos pichadores. Para evitar possíveis acidentes retiramos as cordas. Passamos alguns dias sem retomar as conquistas por falta de proteção para abrir novas vias. Posteriormente com a doação de alguns grampos pelo nosso amigo Gabriel Brasil, escalador e morador da Ladeira dos Tabajaras, realizamos a conquista da Via Fuga dos Cabritos, uma escaladinha que se inicia a partir do Mirante virado para Lagoa.
Deste outro ponto da parede que descobrimos, também podemos observar quão grande e interessante seria o desafio de conquistar uma nova rota passando pelas fendas do totem.
Daí então num finalzinho de tarde do dia 09 de Maio de 2011 resolvemos dar início a Conquista desta via, mas nesta primeira investida só consegui fazer um furo de Cliff para bater o primeiro grampo. Quase um mês depois no dia 01/06 conquistamos a primeira enfiada curta que deve dar um VIIa, bem protegido. Mais um intervalo de quase dois meses se passaram e no dia 05 de Agosto retomamos na terceira enfiada já que a segunda é uma grande rampa que leva até próximo ao arco que é bem visível na parede. Novamente com a falta de grampo, passamos mais um mês sem tocar na via.
No finalzinho do mês, no dia 29/08, desta vez com o Arthur Garcia, Arthur da Urca, iniciamos outra conquista no outro Setor da parede esquerda, próximo a Rua Santa Clara, passando por uns diedros à direita dos tetos das Fissuras Anarquista e Anarquista Socialista... Conquistada mais essa via que foi batizada pelos compassos do sino da Igreja de São Benedito, A Badalada. Negociei umas chapeletas que sobraram desta conquista com meu parceiro e juntando com mais algumas proteções patrocinadas pelos amigos retomei os trabalhos de furação no dia 07 de Setembro quando comecei a bater as chapas.

Por mais duas tardezinhas seguidas, eu e a Stephany novamente, dominamos a terceira enfiada e finalmente o lance que inicialmente parecia intimidador de longe... Após boas proteções originou um quarto grau constante e bem charmoso com um visual incrível.

 No dia 13/09 chegamos na base do totem onde bati a ultima proteção que tínhamos, uma chapa com malhon para rapel, fechando a quarta parada da Via que se tornaria também a P4 da Mundo Real que antes era em um grampo antes do totem. Para alcançar as fendas pegamos uma trilha neste grande platô de mato para direita. Retornamos seis dias depois para limpar melhor a trilha e mesmo sem grampos conquistei a P5 fazendo segurança apenas nas pontas de aço cravados na rocha deixados pelos operários durante as obras de contenções.

Como presente de aniversário atrasado, ganhei três grampos da minha amiga Brigitte, uma escaladora francesa, e no dia seguinte já estávamos novamente na parede protegendo a P5 batendo o ultimo grampo na base da fenda, já escurecendo resolvemos dominar o finalzinho da parede escalando um trecho final exposto fazendo a segurança em uma grande palmeira que cresceu entre o totem e a base da contenção, na terra acumulada ao longo dos anos após a obra. Nesta exploração podemos conhecer outras opções de acesso ao cume sem passar pela difícil fenda. Logo no platô da palmeira, pela divisão do grande bloco que forma a fenda e a parede do totem é possível retornar a Via fazendo um lance fácil de chaminé. Mais adiante pode-se atingir o cume diretamente por uma outra chaminé, mas naquele momento já era noite e a luz baixa das lanternas fracas na escuridão daquele ambiente então desconhecido nos forçou seguir por entre o mato passando ainda em uns blocos de rocha meio que prestes a se desprenderem da parede caso resolvêssemos escalar por eles. Finalmente chegamos ao cume onde já estávamos familiarizados com o lindo visual noturno da maravilhosa Zona Sul. Felizes pela aventura do dia, mas sem comemoração descemos deixando aquela linda abertura na rocha para o ataque final. 
Passados 22dias esperando pelo nosso amigo, Fabio Carneiro, que dispunha de todo seu aparato móvel para conquistarmos a fenda utilizando o máximo de proteções móveis. Finalmente chegara o grande dia da conquista, mas pelo risco grave que a contenção e algumas pontas de ferro ofereceriam para nossa empreitada, planejamos desta vez então seguir pela Fuga dos Cabritos, passando pelo Caminho dos Operários seguindo até o cume para adiantar a conquista e pela alegria da Stephany, minha parceira em todos os outros dias de conquista, que desde que avistou aquela fenda queria fugir dela pela dificuldade que lhe transparecia para o conforto do grau que ela escala. Descemos para base da fenda deixando uma corda de apoio para caso necessário. Entrei na fenda utilizando o apoio da contenção em movimentos de chaminé e protegendo a minha possível queda com duas peças pequena na fenda. Após a contenção a proteção móvel não estava muito confiável devido a uma camada de rocha podre onde escorre a água por entre a fenda. Fiz então uma segurança com um nó de prussik na corda de apoio e puxei a furadeira para bater uma chapa no alto para proteger a virada da fenda, mas a rocha suor oca então tive que subir mais e bater uma chapa um pouco mais acima da virada da fenda que para aumentar a adrenalina possui uma aresta cortante. Resolvi descer para proteger melhor o lance deixando a fenda limpa para escalada em livre e passei a vez para o parceiro que já estava horas impacientemente esperando para provar aquela escaladinha. Assim assumiu a conquista, meu parceiro com todo seu equipo que viria a utilizar para proteger um lance de sexto grauaté o platô aonde termina a fenda. Finalmente conquistamos essa fenda que nos deixou com gostinho de quero mais e quase assombrou minha parceira Stephany, ainda mais depois dos meus gritos “retesa!retesa!retesaaaa! Pedindo para o Fabito retesar mais a corda pois eu estava justamente na viradinha cortante da aresta da fenda onde a graduação em livre está sugerida um VIIb/c.


Com essas seis Vias recém conquistadas, damos as boas vindas aos escaladores! E avisamos que em breve vem mais novidades por aí, mas desta vez com mais apoio, pois os perrengues que pretendemos passar serão restritos aos graus de dificuldade das novas escaladas.

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